Nazi-fascismo<br>regime extremo e brutal do capitalismo

Compreender as causas que determinaram a ascensão do nazi-fascismo na Europa e a eclosão da II Grande Guerra Mundial implica apontar as suas raízes e natureza de classe, e lembrar os objectivos do regime extremo e brutal do capitalismo.

Cuidado, cuidado que o ventre que pariu o monstro ainda é fecundo.

B. Brecht

Quando em Outubro de 1917 triunfou na Rússia o primeiro Estado proletário do mundo, os exploradores tremeram. Nos campos e cidades da Europa, desde 1914, milhares de proletários combatiam entre si ostentando as insígnias dos Estados imperialistas. Num conflito de proporções sem precedentes até então, gerações foram carne para canhão numa disputa que o capitalismo amadurecido, mas de desenvolvimento desigual à escala planetária, havia tornado inevitável.

O modo de produção baseado na exploração de classe tinha-se transformado «num sistema universal de opressão colonial e de asfixia financeira da maioria da população do globo por um punhado de países “avançados”». A partilha da presa «fazia-se entre duas ou três aves de rapina, com importância mundial, armadas dos pés à cabeça» que arrastavam consigo «toda a Terra na sua guerra pela partilha da sua presa», como notou Lénine.

A Rússia, nação vassala das potências cimeiras, era o elo mais fraco da cadeia imperialista. Os bolcheviques apelaram aos trabalhadores para que voltassem as armas contra a burguesia dos seus próprios países em vez de lutarem e morrerem pelos exploradores. A classe operária e os soldados russos responderam à palavra de ordem. O primeiro decreto do poder soviético foi o estabelecimento da paz e a consequente saída da I Grande Guerra imperialista.

Acossada pelo exemplo do proletariado russo, constituído como classe dominante; temendo que outros focos revolucionários triunfassem, a reacção mundial uniu-se. Oito meses antes do fim da guerra de 1914-1918, exércitos da Grã-Bretanha, França, EUA, Japão, Turquia, Roménia, Grécia e Alemanha, entre outros, cercam a Rússia socialista, ocupam a maior parte do seu território e aliam-se aos contra-revolucionários. Os até então inimigos tinham agora um objectivo comum: «estrangular o comunismo no seu próprio berço», como disse, na altura, Winston Churchil.

Só com a expulsão dos agressores japoneses do Extremo Oriente, em Outubro de 1922, ficou o território soviético livre de guardas brancos e intervencionistas. Mas o objectivo de esmagar a construção do socialismo na URSS viria a ser retomado pelo capital.

 

Nova partilha imperialista

 

O desfecho da I Guerra Mundial determinou, antes de tudo, os vencedores da nova partilha do mundo. À Alemanha são impostas condições vexatórias sob ultimatum. O imperialismo germânico perde mercados, fontes de recursos, possessões coloniais e esferas de influência. As indemnizações compensatórias são draconianas. O Tratado de Versalhes, assinado em 28 de Junho de 1919, «não é a paz, mas sim condições determinadas por bandidos», escreverá Lénine.

O Senado dos EUA recusa ratificar o Tratado de Versalhes e a entrada na Sociedade das Nações, cuja constituição havia sido proposta pelo presidente norte-americano, Woodrow Wilson. A organização nunca viria a funcionar, dada a impossibilidade de conciliar as suas pretensões formais com o carácter de rapina dos acordos de Versalhes e com as pretensões das potências imperialistas, cuja luta pela hegemonia mundial contrasta com a paz.

Nos dois anos seguintes, 1921 e 1922, os EUA imporão os acordos de Washington, estabelecendo com o Japão a partilha imperialista da zona do Pacífico e garantindo a abertura do vasto território chinês aos seus negócios.

 

A ascensão do fascismo

 

Após I Grande Guerra, as insurreições sucedem-se e avançam as forças progressistas. Os povos procuram o caminho aberto pela Revolução de Outubro. Na Alemanha, a República de Weimar foi instituída em Novembro de 1918. Em Janeiro do ano seguinte, o novo governo burguês estrangula a insurreição spartakista. Os dirigentes comunistas Karl Liebknecht e Rosa Luxemburgo são assassinados. Em Maio de 1919 é derrotada a República dos Conselhos Operários de Munique, mas no país importantes direitos sociais e políticos são conquistados. A burguesia não pode aceitar tais ousadias.

Na Europa, ao serviço do grande capital monopolista e dos latifundiários, os fascistas tomam o poder do Estado na Hungria, Áustria, Polónia, Roménia, Bulgária, Sérvia, Croácia, Itália, Finlândia, Albânia e Portugal. Os Estados Bálticos, a Bielorrússia e parte da Ucrânia sofrem a terrível opressão.

Mais tarde, em Espanha, com Franco apoiado por Hitler, Mussolini e Salazar, e com a conivência das potências capitalistas, as classes dominantes continuam a reagir ao crescimento do movimento operário e popular. Ao lado dos republicanos espanhóis, só a URSS se baterá. Ainda na década de 30, milhares de voluntários soviéticos lutarão ao lado dos povos da China e da Mongólia contra o imperialismo japonês.

 

Ventre fecundo do monstro

 

A consolidação do fascismo ocorre no contexto da crise que, a partir de 1929, abalou os países capitalistas mais desenvolvidos com consequências devastadoras para os trabalhadores e os povos, criando condições objectivas para que o descontentamento das massas se transformasse em acção organizada contra a dominação de classe. À ordem nova que os comunistas propunham para o mundo, a burguesia precisava impor uma nova ordem mundial.

Na Alemanha, o grande capital e os militaristas, contidos internamente por um poderoso movimento operário, e, externamente, pelas condições ditadas pelas demais potências capitalistas, urdiam há muito outra campanha imperialista. Necessitavam de substituir a democracia burguesa de Weimar por uma ditadura.

O Partido Operário Nacional-Socialista Alemão (NSDAP), criado por Hitler e seus sequazes em 1920, inicia a campanha na Baviera. Militares ultra-reaccionários, grandes proprietários rurais e patrões da grande indústria, estão ao seu lado. Parte do grande capital alemão e estrangeiro (Henry Ford está entre os primeiros mecenas) acredita ter encontrado um líder que fala a língua do povo e mostra-se capaz de instalar a ditadura. A Marcha sobre Roma protagonizada por Mussolini em 1922 serve de inspiração e, em Novembro de 1923, Hitler e o militar Ludendorff organizam um putch.

O falhanço do golpe condena Hitler a 5 anos de prisão, mas escassos 9 meses depois está de volta, munido do livro-base do pensamento nazi, Mein Kampf, no qual explana um programa de acção que cumpre os requisitos necessários aos objectivos do capital - uma miscelânia de nacionalismo, racismo exacerbado e anticomunismo visceral, capaz de colher os ressentimentos germânicos para com a derrota da I Grande Guerra Mundial; cativar a pequena e a média burguesia que identifica os judeus com o capital financeiro mundial, responsável pela sua ruína; esmagar o movimento operário alemão combatendo as ideias marxistas e o prestígio do comunismo. Em 1924 abre-se, porém, um novo período de crescimento económico.

De 1924 a 1929, os monopolistas norte-americanos, britânicos e franceses investem na Alemanha pelo menos 15 mil milhões de marcos. Os partidos burgueses tradicionais dominam os executivos germânicos criando condições para lucros prósperos. Mas Hitler não é abandonado. Mantém-se como reserva táctica da burguesia.

Os patrões mudam de partido conservador-nacionalista conforme as conveniências, mas não deixam de acarinhar o NSDAP, abrindo os cordões à bolsa e escancarando a Hitler as portas dos clubes restritos do capital monopolista. Nestes círculos, Hitler profere conferências nas quais afirma apaixonadamente que o reerguer da Alemanha passa por arrancar pela raiz o marxismo e pela conquista de novos territórios à custa da Rússia bolchevique. Noite após noite, até ser nomeado chanceler, os patrões aplaudem de pé entusiasmados, dando vivas, convencendo-se de que o tempo chegará.

A Itália fascista é também bafejada por larga ajuda das potências capitalistas no período que antecede o crash da bolsa de Nova Iorque. Winston Churchil vai à Itália em 1927 e declara que «este país dá uma imagem de disciplina, ordem, boa vontade, rostos sorridentes», e exclama que «se fosse italiano teria estado de todo o coração convosco, desde a primeira hora, na vossa luta triunfante contra paixões e apetites animalescos do Leninismo».

 

O princípio da tragédia

 

A «Grande Depressão» de 1929 reduz a produção alemã para metade. Milhares de empresas encerram portas e os desempregados chegam a atingir os seis milhões. A fome e a miséria grassam entre as massas. O capitalismo, mergulhado numa profunda crise mundial, tem como desígnio salvar a Alemanha e dirigir o seu expansionismo contra a União Soviética.

O grande capital alemão lança um ataque draconiano às conquistas da classe operária e contribui com somas milionárias para a propaganda de Hitler nos sufrágios que se seguem. No exterior, importantes magnatas britânicos e norte-americanos, com destaque para a alta finança, ou apoiam materialmente Hitler ou são convencidos de que o seu discurso agressivo se dirige contra o socialismo. Descansam.

O Partido Nazi, de pouco mais de 800 mil votos em 1928, alcança, em Julho de 1932, 13,7 milhões de votos (40 por cento do eleitorado). Em todo este período, os comunistas - como Ernst Thälman, presidente do Partido Comunista Alemão (DKP) a partir de 1925, e Georgi Dimitrov dirigente comunista internacional exilado na Alemanha depois de ter liderado uma insurreição contra o regime de Tsankov na Bulgária, em 1923 -, procuram garantir a unidade das forças democráticas alemãs. Apelam energicamente ao Partido Social-Democrata (SPD) para impedir a ascensão do fascismo.

Em Novembro de 1932, os nazis perdem dois milhões de votos e são superados pelo total de votos garantidos pelos partidos Comunista e Social-Democrata nas eleições legislativas extraordinárias. Banqueiros, grandes industriais, latifundiários agem rapidamente e entregam ao presidente Hindenburg uma petição solicitando a imediata nomeação de Hitler para primeiro-ministro.

A 30 de Janeiro de 1933, Hitler é nomeado chanceler. Confirma-se o que o DKP havia dito às massas, um ano antes, durante as presidenciais de 1932: «quem vota Hindenburg, vota Hitler». Revela-se tristemente enganosa a palavra de ordem da social-democracia, que apelava: «votai Hindenburg, abatereis Hitler».

Nesse mesmo 30 de Janeiro de 1933, a direcção do Partido Comunista encontra-se com a homóloga social-democrata e propõe o lançamento comum de um apelo à greve geral contra a ditadura fascista. Os dirigentes do Partido Social-Democrata recusam, e tal como durante o golpe de Estado de Von Papen, em Julho de 1932, tornam público que se manterão nos estritos limites da legalidade constitucional.

Foi música para os ouvidos do capital alemão e do seu fiel servidor, Adolf Hitler. Ao fim de décadas de duras lutas, tinham assestado o golpe decisivo na combatividade do movimento operário e haviam isolado os comunistas.

Menos de um mês depois, a 27 de Fevereiro, a farsa do incêndio do Reichtag é o pretexto usado para Hitler assumir plenos poderes e criminalizar, perseguir, prender, torturar e eliminar fisicamente os comunistas, aos quais se seguiram os sindicalistas, os antifascistas, os democratas e todos os que se opusessem aos criminosos nazis.

No mesmo ano de 1933, foi aberto em Dachau, Munique, o primeiro campo de concentração. Acolheu inicialmente dois mil presos políticos, na sua maioria comunistas.

Calcula-se que a «solução final» dos nazis tenha liquidado nos campos de extermínio (Auschwitz, Bergen-Belsen, Birkenau, Buchenwald, Sabibar, Treblinka, entre muitos outros) 11 milhões de pessoas sem distinção de idade. Seis milhões eram judeus. Os restantes eram presos políticos, militares russos, ciganos e deficientes.

A partir de 1933, a propaganda nazi trabalha a todo o vapor. A Ucrânia é o primeiro «espaço vital» alvo do imperialismo alemão, sedento de fazer do território celeiro e fonte de matérias-primas, escravizando os povos eslavos, considerados inferiores face aos «arianos». Tal implicava a guerra contra a URSS. Era necessário preparar o terreno.

Goebbels, chefe da propaganda nazi, orquestra com o magnata da comunicação social norte-americano William Hearst, amigo de Hitler, uma campanha de difamação antisoviética. Na Ucrânia teria ocorrido um suposto genocídio, uma catástrofe de fome promovida pelos bolcheviques para forçar o campesinato a aceitar a política socialista, dizem. Milhões de pessoas em todo o mundo são intoxicadas diariamente por calúnias que até hoje perduram.

O anticomunismo é sempre antidemocrático, e na batalha das ideias a verdade não se altera, por muito que uma mentira mil vezes repetida se cristalize como verdade.

 

Antecâmara da guerra

 

Nas vésperas da II Grande Guerra Mundial, torna-se ainda mais claro que os imperialistas pretendem direccionar contra a URSS a agressão nazi-fascista. Logo em 1935, Grã-Bretanha, França e EUA consentem a invasão da Abissínia pela Itália fascista. Norte-americanos e alemães estão mesmo unidos nos fornecimentos de petróleo, armas e carvão às tropas do Duce.

No ano seguinte, as potências capitalistas permanecem transigentes para com o belicismo germânico. Em Março de 1936, Hitler viola o Tratado de Versalhes e os acordos de Locarno (subscritos em 1925) e invade a zona desmilitarizada do Reno. A França recusa a proposta da URSS, que se prontifica a responder contundentemente à Alemanha nazi.

Semanas depois, em Julho de 1936, em Espanha, os fascistas iniciam uma contra-revolução sangrenta com o apoio de Hitler, Mussolini e Salazar. Grã-Bretanha e França declaram-se «neutrais» Churchill considera o triunfo franquista «um mal menor» face à vitória dos republicanos. Forma-se em Londres o Comité de Não-Intervenção e, já em 1937, quando milhares de soviéticos e brigadistas internacionais combatem ao lado dos povos de Espanha, também os EUA se manifestam «neutrais», gesto que o ditador Franco afirma que «os nacionalistas não esquecerão nunca».

No outro extremo do globo, os imperialistas japoneses lançam-se abertamente na tentativa de dominar completamente a China ameaçando a URSS. O Japão havia já assinado com a Alemanha nazi e a Itália fascista um acordo anticomunista, o Pacto anti-Komintern. Em Maio de 1939, tropas japonesas invadirão a Mongólia. Somente a União Soviética sairá em socorro daquele povo da Ásia Central, derrotando os invasores japoneses em Agosto desse mesmo ano.



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